Fui até a Sala Carlos Carvalho, na sucateada Casa de Cultura Mário Quintana, assistir "As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant". De cara fiquei feliz porque havia bastante público na fila do teatro e porque, ao entrar na sala, me deparei com o cenário limpo, clean, bem distribuído e bem acabado de Felipe Helfer. Depois, durante a peça vi que o cenário se adequa perfeitamente a peça, até determinando bastante a concepção da mesma, fato bastante comum no teatro. A peça, que foi anteriormente (há mais ou menos 20 anos) apresentada em Porto Alegre, se não me engano, no Teatro da Ospa, com uma performance arrasadora de Fernanda Montenegro interpretando a protagonista, Petra von Kant, que nesta montagem é vivida por Bettina Müller, é dirigida por Airton de Oliveira. Na minha opinião, a direção é limpa, óbvia e opta por uma linha caretíssima que lembra, guardada as devidas proporções, os espetáculos chamados de "teatrão". Penso que o Airton distribui bem as atrizes no espaço e as oferece sempre em angulos favoráveis aos espectadores, busca o tempo todo uma limpeza e um acabamento nas cenas, mas vejo também que se limita a marcações manjadas que nunca surpreendem, não inovam, nem subvertem qualquer regra dos mais básicos manuais de arte dramática. Fica aquele espetáculo correto, meio novela da oito, que nunca explode. Exige pouco ou apenas o básico de suas atrizes, todas elas com condições de render mais do que estão fazendo ao limitarem-se em atender o feijão com arroz realista solicitado pela direção. Incrivelmente, mesmo trabalhando numa sala tão pequena e tão próxima do público, tendo um cenário com espelhos que duplicam o publico, Airton opta pela quarta parede e, ao mesmo tempo que isola seu grupo de atrizes na "casa" de Petra Von Kant, isola também o espetáculo, que na minha opinião ganharia em teatralidade e comunicação emocional se buscasse o contato direto com o público. Mas isso é uma opção do diretor. Bettina Müller no papel da sofredora Petra Von Kant não chega a suar. Parece que tira de letra, esta segura, desenvolta e... normal. É notoriamente uma boa atriz, já testada anteriormente em outros papéis, que possuiria maturidade suficiente para render mais, para que se extraísse mais calor da sua interpretação. Me parece nitidamente "interpretando" e isso me distancia do sofrimento da rejeitada Petra. Me chama sempre atenção o trabalho da Janaina Pelizzon. Acho-a uma excelente atriz que está merecendo um trabalho a altura do seu talento. Entra na peça muda e sai calada e tira partido a cada intervenção. Aparece na medida certa, com segurança e presença em cena. Rosa Campos Velho aparece na última cena como a perplexa mãe Von Kant, e não mostra esforço nem prepocupação em extrair alguma mais profunda de seu personagem. Parece contentar-se com o pouco que dá. Marley Danckwardt, a aristocrata Sidonie, a amiga que apresenta Karin a Petra, tropeçou mais de uma vez no texto, parecia um tanto desconcentrada e com uma interpretação desafinada e vazia que só alcançou algum efeito na cena final, pouco antes de retirar-se da casa de Petra. Simone Telecchi, também usando figurinos de gosto duvidoso, se desdobra em poses pretensamente sensuais para viver a aspirante a modelo Karin. A gente fica sem saber o que levou Petra a se apaixonar tanto por ela. Não mostra o carisma necessário, fica entre uma boboca e ignorante mocinha do interior e uma aproveitadora de plantão. Concordei plenamente com a opinião da filha de Petra (interpretada apenas corretamente por Aline Jones) que diz que a moça é vulgar. Na montagem carioca de 1982, quem fazia Karin era a Renata Sorrah e depois a Cristiane Torloni. As duas ofereciam mil motivos não só para que Petra se apaixonasse, mas também para que a gente se apaixonasse por ela(s). De qualquer forma, parabéns para Airton de Oliveira e sua equipe pelo trabalho digno, honesto e correto.
quinta-feira, 24 de abril de 2008
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