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Ivone, Princesa da Borgonha
No sábado, fui ao suntuoso Salão de Atos da poderosa UFRGS, para assistir a estréia de IVONE, PRINCESA DA BORGONHA, espetáculo com direção de Irion Nolasco sobre um texto do polonês Witold Gombrowicz (não vou ficar falando dele aqui, quem quiser que coloque o nome dele ou da peça no google que aparece uma montanha de páginas sobre o assunto, como dizia Hilda Hilst: Informe-se.). A peça foi encenada em comemoração à passagem dos 50 anos do Departamento de Arte Dramática da Ufrgs, criado "... por alunos do curso de Letras da Faculdade de Filosofia...", como ensina didaticamente o programa da peça. Pois, na minha singela opinião, o espetáculo sai completamente vencedor diante dos olhos da Reitoria, que é quem tem a chave do cofre que pode vir a patrocinar outras possíveis (e no mínimo anuais) montagens do DAD. Aliás, esta seria uma ação de extrema importância, já que qualquer (no bom sentido) oficina de teatro que se pretenda boa (TEPA, TERREIRA, DEPÓSITO) realiza uma (ou mais) montagens com seus alunos, e a poderosa UFRGS não faz isso há anos.
Desde "Conto de Inverno" híbrido espetáculo infantil/juvenil/adulto encenado em 1996, passando pela apenas tímida colaboração em "Assassino" feito em parceria com a atriz e bailarina Alexandra Dias, eu não assistia um espetáculo cuja direção fosse assinada pelo professor Irion Nolasco, que agora desemcumbe-se satisfatoriamente, criando alguns belos momentos e efeitos de direção, alguns com criatividade, outros com experiência, dando-se ao luxo de enxertar outros textos do autor entre as cenas do texto principal, às vezes, modernamente, na forma coreográfica, tão em voga atualmente. Trabalhando com um elenco de jovens iniciantes a direção se sai positivamente vencedora porque apresenta uma concepção clara e realiza um espetáculo de fácil compreenssão, onde a trama nunca se perde e também por conseguir uma força e um resultado (com o perdão da linguagem) espetacular do elenco, que, diga-se de passagem, atravesse vitoriosamente a difícil tarefa que lhe é incumbida, ou seja falar todo aquele texto, no mínimo, abundante, que é obrigado a dizer. Mostra-se um elenco coeso e bem equalizado. Exatamente como diz no texto do blog do jornalista Felipe Vieira: "... o talento, o entusiamo e a disposição de 24 alunos..." No entanto, se observarmos individualmente, é claro que uns se saem melhor do que outros. O quarteto que protagoniza o espetáculo está muito bem em cena. Márcia Donadei empresta tamanha seriedade e profundidade no seu silêncio e consegue transmitir uma grave dimensão humana a sua personagem que nos coloca como em "A Roupa Nova do Rei" clássico infantil de Hans Christian Andersen. Di Machado, está bastante seguro e à vontade no papel de Príncipe Protagonista. Aproveita bem as situações e dá credibilidade a decisão inédita de casar com a feia proposta pelo autor. Não fosse tão longo e repetitivo seu texto, o que o coloca numa situação de tornar-se repetitivo também, estaria brilhando em cena. Talvez é o que venha a acontecer, se o espetáculo chegar a amadurecer apresentando-se mais do que meia dúzia de vezes. Meu amigo e quase meu ator, Herlon Holtz aparece com desenvoltura, voz bem colocada, disposição e disponibilidade corporal, demonstra um certo carisma, mas não chega a energizar o ambiente. O remédio pra isso é apresentar mais vezes o espetáculo e expandir sua energia em direção ao público. Rafaela Cassol, que conheço das festas do Depósito, está muito bem, sua composição da personagem, como se diz em teatro, a "sua rainha" existe. Leônidas Rubenich é vencido pela vaidade capilar e seu cabelo aparece mais do que ele em todas as cenas. Uma pena porque seu cabelo é bonito e ele tem uma bela energia e presença em cena, mas durante o espetáculo travam um combate sem vencedores. Os demais confundem-se na coesão de elenco e todos se defendem e cumprem eficazmente seus papéis.
O figurino é um acerto, um golaço. Irion apostou e acertou em cheio quando escolheu a experientíssima Rô Cortinhas. Um arraso no cinema e no teatro. O cenário, além de ser bom pra viajar, é assinado pelo diretor em parceria com meu longinquo amigo Zau Figueiredo, então tem várias propostas de utilização esboçadas mas que não chegam a se concretizar, ainda estão "sujas". A Banda é boa, divertida. A iluminação do querido Bathista Freire é didática e parece, submetida pelo diretor. Consegue efeitos básicos no tecido e é eficiente para iluminar os atores.
A questão que me coloco é responder porque cansei do espetáculo ao final do primeiro ato e durante um bom pedaço do segundo ato, chegando ao final, louco que terminasse, para que eu não perdesse a sensação de ter visto um bom espetáculo, e não ficasse com a impressão de ter assistido uma peça cansativa. E vejo que o que me chateou na peça foi um excesso de didatismo, um preciosismo acadêmico que impediu cortes profundos no texto. A decisão de fazer na íntegra deixa o espetáculo prolixo e, às vezes redundante, e obriga o público a ouvir várias vezes a mesma discussão. A mim, parece que o texto repassa e repisa os mesmos assuntos. Então, confesso que cheguei cansado ao final do segundo ato. Eu e os atores. E o também o público a minha volta, que olhava o relógio, preocupado com o ônibus, e se inquietava perceptivelmente nas cadeiras. E, pelo menos no meu caso, não é por uma questão de tempo ou de ônibus, pois adoro ficar assistindo. Mas, entendi que a idéia já estava compreendida, que todo elenco ja havia defendido bravamente suas posições, que o espetáculo ja havia mostrado a que vinha e, então, não pude deixar de pensar que deveria haver uns bons cortes naquele texto em benefício da comunicação do espetáculo com o público, mas logo percebi que este era um pensamento babaca, pois cada obra tem o seu tamanho, sua textura, seu tempo, suas cores para o bem e para o mal. Terá o diretor e o elenco e a equipe e o próprio espetáculo, como organismo vivo que é, se haverem com uma gorda "barriga" que aparece na peça lá pelas tantas. Mesmo assim eu faria cortes no texto em benefício do espetáculo, e para justificar cito o eterno contemporâneo Tadeusz Kantor: "O teatro não é um aparato de reproduzir literatura, o teatro possui sua própria realidade autônoma." Senti como se a peça, o público e os atores estivessem pedindo um pouco menos de texto.
Contudo, o espetáculo tem a vitude de fazer com que o espectador não perceba que três longas horas se passam. Isto é ótimo, mesmo depois dos franceses terem nos obrigado a passar mais de seis horas naqueles bancos horríveis. Parabéns a todos. E, como não poderia faltar, um recado a UFRGS: o Reitor e seus assessores financeiros têm que entender que o teatro é um ser vivo, que deve ser apresentado um número máximo de vezes, exibido diante do público e confrontado pela platéia o mais de vezes possíveis, para que ele desabroche o demonstre diante dos nossos olhos a transformação de largarta em poderosa obra de arte. A Reitoria tem que compreender que deve bancar, no mínimo anualmente, a produção de um espetáculo, pois isso é fundamental para a formação dos atores e diretores que saem formados por esta instituição.
Todo mundo deve assistir.
Ivone, Princesa da Borgonha
No sábado, fui ao suntuoso Salão de Atos da poderosa UFRGS, para assistir a estréia de IVONE, PRINCESA DA BORGONHA, espetáculo com direção de Irion Nolasco sobre um texto do polonês Witold Gombrowicz (não vou ficar falando dele aqui, quem quiser que coloque o nome dele ou da peça no google que aparece uma montanha de páginas sobre o assunto, como dizia Hilda Hilst: Informe-se.). A peça foi encenada em comemoração à passagem dos 50 anos do Departamento de Arte Dramática da Ufrgs, criado "... por alunos do curso de Letras da Faculdade de Filosofia...", como ensina didaticamente o programa da peça. Pois, na minha singela opinião, o espetáculo sai completamente vencedor diante dos olhos da Reitoria, que é quem tem a chave do cofre que pode vir a patrocinar outras possíveis (e no mínimo anuais) montagens do DAD. Aliás, esta seria uma ação de extrema importância, já que qualquer (no bom sentido) oficina de teatro que se pretenda boa (TEPA, TERREIRA, DEPÓSITO) realiza uma (ou mais) montagens com seus alunos, e a poderosa UFRGS não faz isso há anos.
Desde "Conto de Inverno" híbrido espetáculo infantil/juvenil/adulto encenado em 1996, passando pela apenas tímida colaboração em "Assassino" feito em parceria com a atriz e bailarina Alexandra Dias, eu não assistia um espetáculo cuja direção fosse assinada pelo professor Irion Nolasco, que agora desemcumbe-se satisfatoriamente, criando alguns belos momentos e efeitos de direção, alguns com criatividade, outros com experiência, dando-se ao luxo de enxertar outros textos do autor entre as cenas do texto principal, às vezes, modernamente, na forma coreográfica, tão em voga atualmente. Trabalhando com um elenco de jovens iniciantes a direção se sai positivamente vencedora porque apresenta uma concepção clara e realiza um espetáculo de fácil compreenssão, onde a trama nunca se perde e também por conseguir uma força e um resultado (com o perdão da linguagem) espetacular do elenco, que, diga-se de passagem, atravesse vitoriosamente a difícil tarefa que lhe é incumbida, ou seja falar todo aquele texto, no mínimo, abundante, que é obrigado a dizer. Mostra-se um elenco coeso e bem equalizado. Exatamente como diz no texto do blog do jornalista Felipe Vieira: "... o talento, o entusiamo e a disposição de 24 alunos..." No entanto, se observarmos individualmente, é claro que uns se saem melhor do que outros. O quarteto que protagoniza o espetáculo está muito bem em cena. Márcia Donadei empresta tamanha seriedade e profundidade no seu silêncio e consegue transmitir uma grave dimensão humana a sua personagem que nos coloca como em "A Roupa Nova do Rei" clássico infantil de Hans Christian Andersen. Di Machado, está bastante seguro e à vontade no papel de Príncipe Protagonista. Aproveita bem as situações e dá credibilidade a decisão inédita de casar com a feia proposta pelo autor. Não fosse tão longo e repetitivo seu texto, o que o coloca numa situação de tornar-se repetitivo também, estaria brilhando em cena. Talvez é o que venha a acontecer, se o espetáculo chegar a amadurecer apresentando-se mais do que meia dúzia de vezes. Meu amigo e quase meu ator, Herlon Holtz aparece com desenvoltura, voz bem colocada, disposição e disponibilidade corporal, demonstra um certo carisma, mas não chega a energizar o ambiente. O remédio pra isso é apresentar mais vezes o espetáculo e expandir sua energia em direção ao público. Rafaela Cassol, que conheço das festas do Depósito, está muito bem, sua composição da personagem, como se diz em teatro, a "sua rainha" existe. Leônidas Rubenich é vencido pela vaidade capilar e seu cabelo aparece mais do que ele em todas as cenas. Uma pena porque seu cabelo é bonito e ele tem uma bela energia e presença em cena, mas durante o espetáculo travam um combate sem vencedores. Os demais confundem-se na coesão de elenco e todos se defendem e cumprem eficazmente seus papéis.
O figurino é um acerto, um golaço. Irion apostou e acertou em cheio quando escolheu a experientíssima Rô Cortinhas. Um arraso no cinema e no teatro. O cenário, além de ser bom pra viajar, é assinado pelo diretor em parceria com meu longinquo amigo Zau Figueiredo, então tem várias propostas de utilização esboçadas mas que não chegam a se concretizar, ainda estão "sujas". A Banda é boa, divertida. A iluminação do querido Bathista Freire é didática e parece, submetida pelo diretor. Consegue efeitos básicos no tecido e é eficiente para iluminar os atores.
A questão que me coloco é responder porque cansei do espetáculo ao final do primeiro ato e durante um bom pedaço do segundo ato, chegando ao final, louco que terminasse, para que eu não perdesse a sensação de ter visto um bom espetáculo, e não ficasse com a impressão de ter assistido uma peça cansativa. E vejo que o que me chateou na peça foi um excesso de didatismo, um preciosismo acadêmico que impediu cortes profundos no texto. A decisão de fazer na íntegra deixa o espetáculo prolixo e, às vezes redundante, e obriga o público a ouvir várias vezes a mesma discussão. A mim, parece que o texto repassa e repisa os mesmos assuntos. Então, confesso que cheguei cansado ao final do segundo ato. Eu e os atores. E o também o público a minha volta, que olhava o relógio, preocupado com o ônibus, e se inquietava perceptivelmente nas cadeiras. E, pelo menos no meu caso, não é por uma questão de tempo ou de ônibus, pois adoro ficar assistindo. Mas, entendi que a idéia já estava compreendida, que todo elenco ja havia defendido bravamente suas posições, que o espetáculo ja havia mostrado a que vinha e, então, não pude deixar de pensar que deveria haver uns bons cortes naquele texto em benefício da comunicação do espetáculo com o público, mas logo percebi que este era um pensamento babaca, pois cada obra tem o seu tamanho, sua textura, seu tempo, suas cores para o bem e para o mal. Terá o diretor e o elenco e a equipe e o próprio espetáculo, como organismo vivo que é, se haverem com uma gorda "barriga" que aparece na peça lá pelas tantas. Mesmo assim eu faria cortes no texto em benefício do espetáculo, e para justificar cito o eterno contemporâneo Tadeusz Kantor: "O teatro não é um aparato de reproduzir literatura, o teatro possui sua própria realidade autônoma." Senti como se a peça, o público e os atores estivessem pedindo um pouco menos de texto.
Contudo, o espetáculo tem a vitude de fazer com que o espectador não perceba que três longas horas se passam. Isto é ótimo, mesmo depois dos franceses terem nos obrigado a passar mais de seis horas naqueles bancos horríveis. Parabéns a todos. E, como não poderia faltar, um recado a UFRGS: o Reitor e seus assessores financeiros têm que entender que o teatro é um ser vivo, que deve ser apresentado um número máximo de vezes, exibido diante do público e confrontado pela platéia o mais de vezes possíveis, para que ele desabroche o demonstre diante dos nossos olhos a transformação de largarta em poderosa obra de arte. A Reitoria tem que compreender que deve bancar, no mínimo anualmente, a produção de um espetáculo, pois isso é fundamental para a formação dos atores e diretores que saem formados por esta instituição.
Todo mundo deve assistir.
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