segunda-feira, 23 de junho de 2008

MEME NO SESC

Pois enfrentei o frio e a gripe e me fui para o teatro, que é uma das únicas coisas que consegue me tirar de casa. Como é bom ir ao teatro. Me fui para o SESC no sábado assistir a mais recente criação do Grupo Meme, concebido, dirigido e coreografado por Paulo Guimarães. Lamento não ter visto "BU", seu trabalho anterior, assim poderia conhecer um pouco mais sobre o trabalho do meu amigo Laco.

Antes de entrar no assunto, propriamente dito, quero fazer dois comentários. Um: eu estava gripado, tossi três ou quatro vezes. Talvez, cinco. Me senti um chato completo. Minha culpa foi atenuada por que estava na platéia o famoso "fotógrafo chato", aquele que por inexperiência ou excesso de zelo, quer fotografar a peça inteira como se estivesse filmando o espetáculo. Pois tinha um assim na platéia nesta noite. O espetáculo completamente intimista e estalo constante da máquina. E ele sentado, muito bem posicionado, no centro da platéia. De última. Como de última é também o segundo comentário. O palco do SESC não permite cenas no chão. Da terceira fila pra trás ninguém enxerga nada. Se numa peça de teatro isso é um problema sério, porque se os atores estão em pé eles sem as pernas, sem acocam se transformam no máximo em uma cabeça. Se deitam, somem. Agora imagine num espetáculo de na dança que trabalhar o tempo inteiro com estas variações. Impossível. O palco prejudica o espetáculo. Isso é o que dá construir auditórios ao invés de teatros. Os arquitetos e engenheiros tem que saber que tudo o se faz num teatro é possível de ser feito num teatro mas o contrário nem sempre é possível.
Bem, agora vamos ao espetáculo.
BREVE UM COMENTÁRIO SOBRE O ESPETÁCULO TERESINHAS. AGUARDEM.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

ÉDIPO - UMA AULA DE TRAGÉDIA

Em breve um comentário crítico sobre a peça Édipo, encenada sob direção de Luciano Alabarse que também é quem assina a adaptação, já que o espetaculo é composto pela obra Édipo Rei e excertos de Édipo em Colono.

domingo, 18 de maio de 2008

BABEL GENET

Pois eu estava na concorridíssima estréia de BABEL GENET no Teatro Renascença. A peça, dirigida por Humberto Vieira, é sua reentrée na cena portoalegrense depois de longa e voluntária ausência desde o seu longinqüo Viagem ao Centro da Terra e sua encenação de Memory Motel. O primeiro vi no Teatro de Câmara com Renato Campão e o segundo no Renascença, com a Adriane Mottola e Zé Adão Barbosa. O primeiro continha textos do Marquês de Sade, e o segundo Charles Bukowski. Coerente com esta trajetória, Humberto coloca em cena agora sua visão de Jean Genet.
Não perca, em alguns dias, a continuação do comentário exclusivo de Modesto Fortuna. Abaixo um release do espetáculo:

Marginalidade, liminalidade e exclusão são os temas que o povo da foto aí vai debater em cena a partir do dia 16, com a estréia no Teatro Renascença de BABEL GENET. Um mergulho na vida e na obra do transgressor escritor francês Jean Genet (1910 - 1986).
Babel Genet pretende lançar um olhar poético para o universo do autor de Diário de um Ladrão, Querelle e Nossa Senhora das Flores. Além do elenco formado por Felipe Nicolai, Mirna Spritzer, João Pedro Gil, Adriane Mottola, Jezebel de Carli e Denis Gosch, a montagem recupera o recurso cênico do coro grego, com nada menos do que 19 integrantes. A equipe técnica da peça também reúne gente legal, como Zoé Degani na cenografia, Carlota Albuquerque assinando a coreografia e Thedy Corrêa (vocalista da banda Nenhum de Nós) respondendo pela direção musical.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

ANTÍGONA BR


Sei que parece sacanagem ir ver peça de colega no segundo dia, mas não deu para ir no primeiro e ganhei um convite para a segunda apresentação de ANTÍGONA BR que aconteceu no magnífico Theatro São Pedro. A peça tem direção de Jessé Oliveira, de quem eu posso dizer que acompanho o trabalho pois tenho visto muitas de suas produções, inclusive sua montagem anterior à frente deste mesmo Grupo Caixa Preta, HAMLET SINCRÉTICO. Aliás, mantendo uma tendência atual, perceptível em várias peças, esta ANTÍGONA BR segue na linha encontrada em Hamlet Sincrético. Assim como Enrique Diaz persegue em "A Gaivota" a mesma fonte do seu "Ensaio.Hamlet". E Patrícia Fagundes segue as descobertas do "Sonho..." na sua "Megera...".
ANTÍGONA BR, numa tentativa de aprofundar as idéias e temas já apresentados no espetáculo anterior, oferece ao público uma confusa salada onde os ingredientes são algumas tragédias gregas, muitos elementos da cultura afro-brasileira (capoeira, griot, culto aos orixás, signos, ritos e mitos africanos), catolicismo popular e um pouco de linguagem pop, tudo isso temperado com cantos e músicas afro-brasileiras sob direção Luiz André da Silva.
Colocando de lado os problemas de ritmo desandado, má articulação entre as cenas e a excessiva e prolongada duração do espetáculo, problemas estes que são totalmente contornáveis na sequência das apresentações, a nova peça do Caixa Preta encontra-se assentada na dramaturgia pra lá de confusa assinada por Viviane Juguero, na minha opinião um dos maiores problemas do espetáculo.
Os figurinos de Raquel Capeletto são excelentes, dão colorido, brilho e auxiliam na composição e na identificação dos personagens. A iluminação também aparece de maneira eficiente. As coreografias de Joca Vergo, além de eficientes, dão brilho ao espetáculo, mas padecem também do mal da confusão ou falta de clareza.
A direção de Jessé Oliveira apresenta lances surpreendentes, de altíssima criatividade, entremeados com momentos completamente perdidos e vazios onde se percebe que o diretor ou não teve tempo para pensar melhor a respeito, ou realmente não conseguiu definir a contento. Uma direção de altos e baixos, problematizada por uma dramaturgia sem clareza que pretendeu abarcar muitas histórias de uma só vez, mas também pelas escolhas feitas pelo diretor, como é o caso do inexplicável uso de duas atrizes para representar Antígona.
O elenco é um caso à parte. Acompanho o trabalho de alguns atores desde TRANSEGUN e, por incrível que possa parecer, em alguns não identifico crescimento. Continuam os mesmos amadores de sempre. Gestos mal acabados, gritaria exagerada, dicção ruim, corpo sem presença. Ou se exigem pouco e se vêem como amadores, ou estão sendo pouco puxados pela direção. Desta montagem cabe destacar apenas o trabalho de Lucila Clemente que fez uma belíssima composição para o seu personagem no coro dos velhos. Quanto aos outros, se ninguém brilha, ninguém compromete. O que, cá entre nós, é muito pouco.
Pra concluir, acho que o trabalho de Jessé não terminou. Ainda tem muita coisa pela frente se quiser pelo menos aproximar-se da realização anterior.
M.F.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

A COMÉDIA DOS ERROS - UM ACERTO COM POUCO RISO



Sei que minha grande amiga e colega Adriane Mottola há muito tempo acalenta a idéia de encenar A COMÉDIA DOS ERROS. Desde os tempos do Decameron, quando a conversa girava em torno de que peça poderíamos montar, essa possibilidade já era citada. E agora, finalmente, seu sonho está em cena. E somente isto já seria um fato prodigioso. Está em cartaz a ousada encenação que a diretora Adriane Mottola, corajosamente bota na roda como sua proposta para elucidar a seguinte questão: como se daria a adaptação, a aproximação, da forma elisabetana, que passados quinhentos anos já podemos chamar de clássica, ao gosto do público moderno. Como encenar Skakespeare sem ser chato? Impossível não comparar quando somos (beneficamente) assolados por montagens dos clássicos shakespearianos. Ficando apenas no âmbito da comédia, pode-se dizer que: enquanto Daniela Carmona e Adriano Baseggio escolheram apostar na fantasia onírica e campestre e na magia incandescente das fadas e Patrícia Fagundes da preferência ao caminho da comunicação agíl e movimentada dos cabarés e casas noturnas, Adriane vai fundo na proposta de modernização, aproveita seu trabalho e estudos de teatro contemporâneo para contemporaneizar Shakespeare.
Montagem super bem realizada com figurinos, como sempre, impecáveis de Coca Serpa. Cenários sugestivos e bem construídos. A iluminação franciscana mas eficiente.
A direção de Adriane Mottola é segura e resulta num espetáculo limpo, bem articulado, mas que ao ver peca pela escolha da tradução de Barbara Heliodora. Pode ser uma boa jogada de marketing, mas o texto versificado choca-se com a proposta ultra moderna da marcação coreografada.
Assisti a terceira apresentação da peça. A primeira realizada numa segunda-feira. Os erros não estavam apenas no título. Aconteceram vários tropeços durante a apresentação. O espetáculo estava frio. Intimidado. Sem ritmo. coisas que não significam absolutamente nada, simplesmente porque é assim que funciona. Na terceira apresentação uma peça está engatinhando a procura de um sentido, de um ritmo e de uma conformação particular que só vai atingir lá pela viségima apresentação. Fora isso, senti falta da comédia. Do riso provocado pelas situações cômicas. A platéia sorria. O elenco esforçava-se visivelmente na tentativa de parecer engraçados. Mas a explosão sonora das risadas não acontecia. Talvez por causa do próprio esforço. Destaque para a atriz Janaina Pelizzon que aparece num papel pequeno mas muito bem aproveitado. Ao vê-la em cena, lembrei do filme "Quero Ser John Malkovitch", e pensei: quero ser Janaina Pelizzon. Sem esforço, com um "time" perfeito.
Resumindo, trata-se de uma produção de alto nível, espetáculo de puro teatro, bem realizado e saboroso, mas esbarra na falta de comédia, talvez por ficar tri-partido entre o contemporianismo das marcas coreografadas, o texto mantido em versos e o esforço exagerado de alguns atores para tornarem-se engraçados.
M.F.
Foto: Marcos Nagelsten zh
Aparecem na foto: Janaina Pelizzon e Sofia Salvatori

quinta-feira, 24 de abril de 2008

PENÉLOPE BLOOM PARA POUCOS


Muito difícil, dificílimo, comentar peça de ex-mulher. Se digo que não gostei disso ou daquilo, será por causa de mágoas do passado ou do presente. Se falo bem, é pra disfarçar os mesmos ressentimentos. Mas, no meu rápido cursinho de crítica teatral, Dona Bárbara ensinou que o crítico deve presar, acima de tudo a isenção. Então, o fato é que achei o espetáculo bonito e bem acabado, mas não gostei da peça. Depois de meia hora sem acontecer nada, foi um martírio esperar os 45 minutos restantes para o final do espetáculo, não só por se tratar de um espetáculo "difícil", mas principalmente por causa de sua verborragia e ausência de alterações de ritmo. A longa queixa e divagação da Sra. Bloom começam e terminam praticamente inalteradas. Além disso, pude presenciar um choque entre dois tipos de teatro diferentes: a brasileira, Maria Falkembach, mostrando um teatro moderno, físico, com partituras vocais e corporais, dando seguimento a sua pesquisa na interface da dança e do teatro, enquanto que a atriz costa-riquenha, Vicky Monteiro, em que pese seu esforço aparente para fisicalisar algumas ações, permanece o que chamamos de "atriz de texto", o que provavelmente está mais vinculado a sua larga vivência teatral naquele país. Enquanto esta última mantém durante todo o tempo uma sólida quarta parede, a primeira rompe esta convenção por diversas vezes. O embate destas duas correntes teatrais, que poderia ser benéfico, na realidade da cena não favorece o espetáculo. Vicky demonstra claramente suas qualidades vocais e expressivas e Maria Falkembach, que ja tive oportunidade de dirigir em diversas ocasiões, mostra maturidade em cena. Pena que seja colocada na condição de coadjuvante, de uma espécie de espelho da verdadeira Molly Bloom, que seria vivida por Vicky Monteiro.
A peça se baseia na última parte do livro "ULISSES" de James Joyce, que é quando o Sr. Bloom deita e dorme e sua esposa, Molly, desperta e recapitula o dia e parte de sua vida, num fluxo psíquico entre lúcida e ilúcida. Não li o livro de Joyce, mas sei que ele tem fama de literatura "difícil" que beira o incompreensível e dedicado ao entendimento apenas para eruditos. Sendo que segundo alguns críticos, a tradução da edição brasileira, realizada por Antonio Houaisss, complica ainda mais o entendimento. Tudo isso empresta ao livro um pouco da síndrome de "roupa nova do rei", a qual se faz presente por extensão, também na peça em questão.
A iluminação, de Mirco Zanini, talvez por opção, talvez devido aos poucos recursos da sala, é apenas protocolar. O cenário de Rudinei Morales, é discreto, bem acabado e se coaduna com as necessidades do espetáculo. Poderia ter mais "viagem", um pouco mais de arte e refinamento. A trilha sonora de Leandro Maia é precisa, discreta e presente salientando momentos e propondo climas. O figurino feito à seis mãos, por Liane Venturella, Sandra Possani e Chico Macalão, em que pese a breguice do penhoir ser igual a colcha, é de muito bom gosto e acrescenta beleza e plasticidade ao movimento das atrizes que tiram e colocam roupas o tempo inteiro.
A direção de Gerardo Bejarano é limpíssima e, ao meu ver, comete os seguintes pecados: não se define quanto ao estilo de interpretação, permite que o ritmo do espetáculo se mantenha o mesmo durante praticamente toda a peça; e, finalmente, privilegia a verborragia em detrimento da proposta físico-corporal. Cria um espetáculo sem muitas nuanças e não ilumina a difícil obra em que se baseia, mantendo-a elitizada e acessível somente para poucos entendidos.

MAIS UM SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO



Quando as cortinas do Teatro Renascença se abrem e surgem os primeiros sons, e inicia-se a cena de abertura desta nova montagem de O SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO, dirigida a quatro mãos por Daniela Carmona e Adriano Basegio, tem-se a maravilhosa impressão de que participaremos de um espetáculo inesquecível. A abertura é simplesmente primorosa em todos os seus elementos cênicos e prenuncia a magia e encantamento que se irradiarão do grande carvalho da floresta em direção a platéia. Muito acertadamente a dupla de diretores aposta na fábula como centro da concepção do espetáculo e como diz o jornalista Renato Mendonça, é "impossível você não se sentir imerso em um ambiente de sonho, perdido (ou achado) em uma floresta".
O crítico literário Harold Bloom diz que Shakespeare escreveu esta obra "provavelmente, sob encomenda, para homenagear um casamento entre nobres" e segue afirmando que trata-se, sem dúvida, de sua primeira obra-prima, perfeita, uma de suas peças que apresentam força e originalidade admiráveis". Do alto da minha ignorância, me permito discordar do professor Bloom. Se pensarmos em termos de análise literária são inegáveis e perceptíveis os méritos estilísticos do texto e indiscutível a genialidade do autor inglês. Mas, colocando-me apenas como um mero espectador que recebe uma encenação do texto em pleno século XXI, fica difícil não ver no texto a ingenuidade de uma novela das sete e uma excessiva falação literária associada a uma repetição de idéias manjadas.
Peço antecipadas desculpas por traçar, às vezes, comparações entre esta montagem e aquela realizada pela diretora Patrícia Fagundes, mas devido a proximidade temporal de uma com a outra isto trona-se inevitável, e acredito que não há espectador que tenha visto as duas peças, que não faça semelhante analogia entre os dois espetáculos. Tudo isso para dizer que Antonio Rabadan, bem ao contrário dos elementos do outro "Sonho...", desta vez acerta em cheio na concepção visual do espetáculo. Cenário e figurino contribuem tremendamente para fundamentar a concepção dos diretores. As peças do figurino são, separadamente pequenas obras de arte, e no conjunto compõem a atmosfera perfeita para o enlevo da platéia. O cenário que em Clowssicos era apenas prático, aqui transforma-se nos diversos ambientes sem perder a magia e sem deixar de exercer sua força. Todos estes elogios também devem ser estendidos para a acertadíssima trilha sonora que tem nada mais, nada menos que o nome excelente músico Fábio Mentz. O tarimbado iluminador Fernando Ochôa, na minha opinião, poderia ter concebido uma luz ainda mais apurada para o espetáculo, não se limitando a fazer uma luz apenas bonita e eficiente. Não que eu ache que a luz tenha que aparecer, mas diante soa outros elementos do espetáculo, me parece que a iluminação não brilha como poderia. Mas sei que a luz depende de equipamentos, por isso sou sempre cuidadoso ao falar deste assunto.
A dupla de diretores, como ja disse, acerta na concepção onírica, silvestre e um tanto lasciva, mas descuida da direção dos atores quando permite que as interpretações sejam bastante irregulares. O ritmo do espetáculo vai caindo ao decorrer do tempo junto com o interesse do público, tanto por causa do longo texto, quanto pela ausência de novos estímulos cênicos e cômicos e pela carência de variações nos ritmos da peça. Ao contrário do "Sonho..." da Patrícia, que investia muito mais na comicidade, aqui a parte cômica fica relegada somente a algumas personagens ou núcleos de personagens, e isto resulta em mais lirismo e romantismo e em menos comédia.
No elenco vale destacar positivamente a presença viva e simpática de Adriano Basegio como Puck; da minha queridíssima super atriz Arlete Cunha, em plena forma, que, como diz Renato Mendonça, "resplandece" no papel de Novelo e a jovem Fernanda Nascimento, que empresta carisma e chama atenção para sua fada. O excelente ator Álvaro Rosacosta se apresenta acomodado, exercendo o que eu chamo de interpretação apenas correta e protocolar. Saudade daquele Álvaro do Beijo no Asfalto.
Assim, apesar de um pouco cansativo na sua última meia hora, este "Sonho numa Noite de Verão" tem méritos suficientes para encantar os espectadores e a Cia. do Giro merece mais uma vez os sinceros aplausos por mais esta criação.